domingo, 24 de janeiro de 2010

Primeiro amor

Ele era um simples cantor de cidade pequena. Tinha um violão meio velho, mas, ele mesmo, era jovem, e devia ter, aproximadamente, seus 28 anos. Ele tinha voz bonita, e uns olhos ainda mais belos que a voz. Uma garota se afogaria naqueles olhos. Ela, no entanto, não era mais uma garota, mas uma mulher, com cerca de 50 anos.
Ele – embora rodeado de moças lindas e apaixonadas – nunca se apaixonara, muito menos, acreditava viver um grande amor, ele era como um pássaro livre, sem destino certo, sem ninho, que, a cada hora, pousava num galho diferente. E ela, embora experiente, nunca amara. Ela era séria, e adorava seu trabalho, uma grande, conhecida e talentosa designer de moda, e, por causa disso, nunca tinha tempo para romances sérios, nunca tinha tempo para se apaixonar. Vivia relacionamentos rápidos e passageiros, dos quais, quando muito, sobravam uma ou duas lembranças.
Ela estava naquela cidade tão pequenina para analisar uns bordados feitos por um grupo de senhoras que lá moravam. Durante uma dessas idas à casa das senhoras, ela ouviu uma voz que lembrava canto de rouxinol. E, talvez pela primeira vez depois de muitos anos, ela desacelerou. Ficou a procura daquele canto. E quando viu, era de uma boca macia e quente, risonha, que saía aquela canção que ela nem mesmo conhecia: “A Deusa da minha rua / Tem os olhos onde a lua / Costuma se embriagar / Nos seus olhos eu suponho / Que o sol num dourado sonho / Vai claridade buscar”. Ele parou de cantar assim que a viu. Ela era tão bonita! Uma beleza clássica, como ele jamais viu. Ela olhava para ele com um olhar fascinado... Ela nunca vira um rapaz tão bonito e com uma voz tão doce! “Nossa, como pode um rapaz tão pobre, ser tão belo?” - pensava ela, que sempre fora muito preconceituosa.
Ele viu os olhos daquela mulher, e o sol buscou nos olhos dela a claridade que eles podiam oferecer-lhe. Olhos vivos os dela, olhos preguiçosos, marotos e azuis os dele. Ela sentiu-se entre mulher madura, independente e determinada que era, e menina encantada, fascinada, que nunca foi. Desde então, durante o tempo que ficou naquela cidadezinha, ela sempre passava por aquela rua, pois sabia que lá estava o seu passarinho canoro de olhos feito mar, e sorriso feito doce. Desde então, ele só cantava sobre deusas quando a sua, que ele, nem ao menos, sabia o nome, estava presente. Ele nunca pensou que deusas fossem mais velhas que ele. Ela nunca pensou que se fosse encantar, muito menos por um rapaz mais novo, e menos ainda, por um pobre. Ela, que só amava luxo, riqueza e status, aprendeu a amar.
Mas quando ela se viu obrigada a voltar... Ela não suportaria! Mas era preciso, ele, nem ao menos, sabia quem era ela, e não gostava dela como ela, dele – ela pensou. Destino... quem sabe? Ele a viu dentro do carro, partindo para a capital. Ela o viu também, e pediu ao motorista para parar. Ela correu até ele, como nunca correra até ninguém, e dera no rapaz o primeiro beijo de amor de ambos. Sentiu-se, pela primeira vez em toda a sua vida, adolescente e, verdadeiramente, feliz. E ele sentiu, pela primeira vez, o coração bater mais forte e acelerado. Bocas quentes e úmidas, corações quentes, unidos, colados e amarrados um ao outro. Depois saiu, sem dizer palavra, com olhos baixos, quase marejados, implorando um abraço. Que abraço ele lhe daria? Ele estava extasiado, mas completamente surpreso, assustado e, por isso, paralisado, estático. Pobre rapaz! Ele quis, mas a emoção de saber que era correspondido, o tornou completamente atônito, quase tonto. Ela voltou correndo ao carro, pois nunca dissera a ele o quanto ele significava para ela. Mas antes que ele pudesse sair daquele estado de paralisia e correr ao encontro dela, no carro, o automóvel já estava indo embora.
Nunca mais ela foi a mesma. Ela, pela primeira vez, tinha muitas, muitas lembranças, as quais nunca esqueceu. Nunca mais ele cantou, nem tocou músicas sobre deusas. A deusa de sua rua era apenas uma miragem. Ela estava só de passagem no seu mundo, o Olimpo esperava por ela. Mas de toda essa história, algo é certo: ele recebera uma deusa mulher, mas devolvera, ao Olimpo, uma deusa menina.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Um blog começando...

"Se procurar bem você acaba encontrando.
Não a explicação (duvidosa) da vida,
Mas a poesia (inexplicável) da vida."

Carlos Drummond de Andrade