sábado, 26 de novembro de 2011

Recordações

Parece que não vai passar
Não vai passar assim,
Tão fácil.
Parece que não vai passar
Porque já deixou marcas,
Cicatrizes incuráveis.
No chão há marcas de seus pés,
No travesseiro há seu cheiro,
No ipod a canção que rola
É a que desenrola em mim
Lembranças do nosso entardecer:
A canção que você sempre preferiu.
Parece que vou demorar
A me libertar
Desses momentos tão nossos,
Dessas lembranças tão invasoras,
Que se infiltram em mim
Para despertar sentimentos.
Agora eu sei
Esta minha única certeza:
Não vai passar.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Se eu soubesse...

Se eu soubesse que você iria, sem euteamo, sem carinho, sem aviso prévio...
Se eu soubesse que você fecharia a porta sem olhar para mim, sem adeus...
Se eu soubesse que você me deixaria, com a cabeça tonta, com o coração saltando e estômago revirado...
Se eu soubesse que minha boca ia clamar presença tua, em meio ao tornado, e você não ouviria...
Se eu soubesse que todo o meu corpo ia se doer de ausência de abraços, e ouvido ia escutar o silêncio da sua voz ecoando no infinito da minha mente...
Se eu soubesse de tudo isso...
Se eu soubesse, talvez fizesse diferente?
Não, não, faria igual. Amor vivido em plenitude, com início, meio e fim. Mesmo que eu não queira – fim. Mesmo não querendo assim. Mesmo doendo tanto em mim.
Enfim...
Faria tudo igual. Amor intenso igual... Mesmo se eu soubesse!

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O musical de amor

Ele lhe disse que sempre procurara aquela voz para cantar “Endless Love” com ele, e sua banda, e que logo que, ao videokê ela cantara “Me chama”, ele soube que a voz que almejara era a dela. Ela riu, e disse que aquilo era uma brincadeira, uma tolice, que ela não sabia cantar coisa alguma, só fingia. Ele sorriu e disse que ela cantava perfeitamente, perguntou-lhe se topava um dueto, e insistiu muitíssimo. Ela, então aceitou fazer um teste, só para ver. Ele estendeu a mão, ela bateu. As destras se encontraram, se uniram e se cruzaram. E os olhares se encontrando, congelaram-se. Os suaves sorrisos também. O mundo inteiro caberia naquele espaço de tempo entre olhares e sorrisos, num espaço sem beijo, mas com muita canção e história, onde tudo se congelara. Então, pouco a pouco, os dedos foram se desvencilhando, ela acariciou o indicador dele, como quem não queria mãos separadas, ele também não queria, nenhum dos dois queria tirar a direita, mas era preciso, para que aquela magia de instantes voltasse a rotineira vida normal.
E quando mãos já não se encontravam, já não se tocavam, ela pediu por favor: “Espere! Por favor, cruze sua mão em minha novamente, preciso saber se é verdade”. Ele não compreendeu uma só palavra dela, mas, novamente, dera-lhe sua direita, e toda a magia de olhares e sorrisos novamente. Então ela fechou, brevemente, os olhos, abriu-os, sorriu mais do que antes, e gritou: “É isso! Você me ajudou a desvendar essa charada, esse meu grande enigma”.
“O quê? Não compreendi; do que você está falando?” - ele perguntou meio perdido em meio àquela fala. Ela, enfim, explicou-lhe que, durante toda a vida, procurara uma história perfeita, um romance contemporâneo, com a magia dos clássicos, para escrever, procurara esse romance na vida de outrem, procurara em sua própria imaginação, mas que nunca conseguira encontrar, e mesmo quando insistira em escrever vários textos, até obter o que desejava, não conseguiu chegar nem perto do que ela sempre sonhou. Faltavam-lhe as ideias, as grandes ideias. E só agora sabia o porquê, pois a história que ela queria criar, já existia, já fora escrita, já estava pronta, era só questão de esperar o tempo certo para o livro sair do forno e ser lido. Ele ficou ainda mais confuso, e ela prosseguiu, como que percebendo sua confusão, e lhe explicando que a história que ela queria criar, mas já estava prontinha, era o seu destino, era a sua própria história, o seu romance, a sua vida.
Ele entendia cada vez menos, e ela disse: “A história que sempre quis escrever era essa de agora: o mocinho era você, e a mocinha era eu, o romance que eu sempre desejei escrever e publicar era a minha vida, e eu nunca fiz ideia, a não ser agora, quando você cruzou sua mão à minha. Então eu encontrei o romance contemporâneo com a magia de clássico com o qual sempre sonhei”, e completou com um “Eu amo você”. Ele a olhou fixamente, depois sorriu, e, como incrédulo, perguntou-lhe: “Você me ama?”, ela disse: “Há muito, mas só agora me dei conta de que a história que eu procurei a vida toda era essa”. Ela disse ainda que ele era a sua grande história, sua literatura, e ele respondeu que ela era sua voz, sua música desejada, o som que queria ouvir há muito tempo.
Ele fez gestos de lhe beijar, mas ela respondeu que em sua história o mocinho só beija a mocinha se ele tem certeza absoluta de seu amor por ela. Então, ele deu mostras de ir embora, mas ele não ia para sempre, só se virara para apertar o play no aparelho de som, para que a história tivesse sua própria trilha, e, ao som de “Endless Love”, deu meia volta, tocou-lhe o rosto, e lhe beijou apaixonadamente. Agora todos já conhecem a história, e sua respectiva trilha sonora, talvez, quase, um musical. Um musical de amor. O musical de amor.