terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Sua receita


Você põe uma xícara de sorrisos, uma pitada de piscadelas, uma garrafa de olhares azuis, meio litro de educação, um quilo de simpatia. Depois põe tudo no fogo, para aquecer bem. O resultado: eu, completamente, apaixonada por você, sem volta. Só, por favor, não deixe passar da conta e queimar. Meu coração ainda não está acostumado a pratos tostados.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

"Amore" não rima com "cuore"


Você tão sorriso, tão azul, tão piscada de olhos, tão alegria, que eu até pensei que fosse meu e que seria para sempre. Você tão doce, tão só, tão feliz, tão livre, que eu cheguei a pensar em nós. Mas não foi nós, não deu nós dois, o que deu foram nós, nada desatados de saudade. Você tão misto de moço bonito e sentimento que eu pensei em ser 100% feliz. Eu pensei até que você fosse meu. Eu pensei até, – pretensão e idiotice, a minha – que não fosse lhe perder. E o pior é que nem houve adeus. E quem disse que amor é sentimento que rima? Não rima. Só dói.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Outro ritmo

Não, você já não me toca em nada. Nem de bossa, nem de samba, nem de rock'n'roll. Então você sorri como se eu lhe importasse. Sei que não. Deixa que seu pé batuque no chão quando tocar na rádio local a canção que adoramos. Deixa seus olhos perdidos, como dantes, na janela do ônibus, enquanto eu o observo. Só que, agora, sem o amor de outrora. As músicas da manhã ainda tocarão, mesmo que em mim nada toque no seu ritmo, como fora um dia. Deixe ser só amizade. Guarde o oi sem jeito, que eu não me importo em sorrir para você. Mesmo sabendo que agora o riso é de amiga. Se você não sabe ou não quer, não se incomode mais, não precisa mais de guitarra, nem violão p'ra mim. Meu ritmo mudou, é outro agora, não mais você.

domingo, 22 de julho de 2012

Ciranda

Palavras dispostas no papel,
Feito a gente numa dança,
Na ciranda dessa vida:
Não perca seu par,
Encontre...
A poesia perdida.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

A Mar

Preencheu-me tanto azul,
Que acabei por me render,
Completamente,
A goles do seu mar.

Sugo todas as suas ondas,
E seu sal é minha cachaça,
Que bebo para esquecê-lo,
Mas me faz lembrar
Ainda mais.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Recolhidamente

O relógio me chama à vida
Enquanto olho através da janela,
Vejo as novidades pela cidade,
Mas não me animo a conhecê-las de perto.
Passo os dias contando os tique-taques,
Que este contador da vida faz.
Às vezes me vejo no espelho
Percebendo o tempo que passou.
Palavras escapolem de mim
Enquanto contemplo a natureza,
E penso no meu pretérito imperfeitíssimo
E no meu futuro
Perfeitamente indefinido.
Presente só recolhidamente,
Encolhida neste canto meu.
Versos e bolas de papel:
Eu escrevendo para não enlouquecer,
Passando meus dias na esperança,
Esperando encontrar-lhe na rua
Através dos vidros deste quarto,
Para quem sabe, então,
Voltar a viver.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

O tique-taque do espelho

O relógio conta e canta:
Tique-taque, tique-taque, tique-taque...
Olho para o espelho, e nele não me vejo
O tempo passou e o coração está vazio
Ele bateu a porta, e nunca mais voltou
A janela se fechou, emperrou e não mais abriu,
Para que eu contemplasse o sol.
Este rosto que eu vejo
É só um, e, não mais, o mesmo
Este rosto não é o meu
É o que sou agora, não o que eu gostaria
Minha verdadeira face
Se perdeu nas malas dele,
Na falta de adeus dele,
No beijo que eu nem sabia ser o último,
Na porta fechada.
Metade do espelho
enferrujou
Pela falta da cara dele,
Do sorriso dele,
Da magia carregada com ele.
Ele não mais me quis,
Não mais quis meu mundo.
O relógio conta e canta:
Tique-taque, tique-taque, tique-taque...
Sucessivamente até sei lá quando
O tempo não me deu tempo,
O tempo não me dá tempo,
O tempo não me dará:
Nem o retorno do tempo,
Nem o suficiente
Para fazê-lo voltar.
O espelho sente falta,
E eu também.