quinta-feira, 3 de março de 2011

O que era aquela canção

Começou numa linda manhã de dezembro, início de verão, perfeita estação. Tocava o dia inteiro, até quase o CD arranhar. Estavam todos enjoados daquela melodia repetida, e se ela não foi parar na delegacia é porque não existe lei para tocar (ou deixar de tocar) a mesma música várias vezes durante o dia. Os vizinhos reclamaram, ela baixou o volume, mas não tirou o CD do som. Ela não tirou a música de sua vida. O que era aquela canção? Todos se perguntavam, tantas e tão repetidas vezes quanto a canção invadia seus ouvidos.
Foi quando numa manhã de outono todos acordaram, exceto ela e a música. O que era aquela canção? O que aconteceu com ela? Por que todo o som se calou, se emudeceu, num silêncio inacreditável? Por quê? Por que de repente, não mais que de repente? Porque do riso dela se fez o seu pranto... seu pranto silencioso. E foi por isso que a canção deixou de ser tocada, deixou de ser ouvida, por ela, e pelos outros. Separação, fim de romance, só para sintetizar, porque aqui não convém a narração do romance, aqui só convém que se diga que amor de verão não sobrevive ao outono.
As folhas caem das árvores, a música some ao sopro do vento. Nada mais sobra além da solidão, de uma saudade inimaginável, e de um friozinho que prenuncia o inverno.