segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Pausa

Pausa. Pause. Não importa o idioma: português, espanhol, italiano, inglês, francês, alemão. Você me pediu tempo, e eu não concordei, não aceitei, mas tive que obedecer. Não importa o idioma. Sei que é o fim. O fim de um sentimento, que talvez nunca tenha existido de sua parte; porque de minha parte, não há pausa, não há outro tempo a não ser o agora, que é o tempo de ser feliz.
Pensei várias vezes que nossa história era p'ra sempre, e nosso fim era “viveram felizes para sempre”. Nada! Bobagem eu me deixar iludir assim. E agora você aí, talvez contente sem mim, e eu, eu sem você, no seu oposto estado de espírito.
Porque a minha poesia perdeu a lírica. E o poema tão sinestésico de você e de mim, virou antítese, paradoxo. Você alegria, eu tristeza; você certo do nosso futuro; eu imprecisa. Não adianta mais. Inútil mentir que minha felicidade não está em suas mãos, porque está. Sempre esteve ao seu lado. Tolo dizer que não o amo, não é verdade, é fuga. Amor assim, talvez para sempre. Mas, por enquanto, ainda o é... para sempre, sem talvez. Meu coração não pausa um sentimento, assim... tão fácil.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Sem lé, nem cré

Eu não queria me deixar ficar assim
Sentimental, incondicionalmente.
Eu não quis me perder em seus olhos...
Não pude, no entanto, evitar.
Tornei-me tonta, tola e ébria.
Ébria de seu cheiro...
Não posso mais separar...
Não consigo evitar.
Agora já não há mais lé,
Já não tem mais cré,
Já não faz sentido.
Porque sentido,
Eu sinto...
Mas você não quer...
Então só me restam olhares...

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Persona

Cansei-me de ser Julieta, Emília, Desdêmona. Cansei-me de ser Jocasta, Catarina, Bianca. Cansei-me de ser Madalena. Cansei-me de ser Fedra.
Tentaram me adaptar e me fazer muito Capitu: não quero! Nem Sancha, nem Marcela, nem Virgília! Nem mesmo Helena.
Cansei-me! Também não me venham com Luísa, nem Emma Bovary.
Não estou para nada, nem trágica, nem dramática, não romântica, nem realista.
Desta vez quero ser quem desconheço, quem nunca ouvi, nem vi, não conheço, nem nunca conheci. Desta vez quero ser anônima, quero ser a personagem que eu mesma hei de inventar e tornar real. Desta vez, nada de máscaras. Desta vez, e para sempre, talvez, quero ser muito mais complicada e, paradoxalmente, simples, do que todas essas mencionadas. Desta vez quero ser a mais famosa e anônima de todas as personagens que já vivi, e hei de viver. Desta vez quero ser, apenas, eu mesma: me descobrindo, me estudando, me atuando. Simplesmente eu.

sábado, 18 de setembro de 2010

Mar

Sabe... Não sei até quando isso vai durar.
Não sei quanto tempo dura uma dúvida.
Pensei que você fosse água corrida,
Que já não há mais chance de voltar.
Enganei-me.
Você não é água corrida, você é presente.
Eu o vejo e me lembro de nós dois,
De músicas,
De dança,
De olhares furtivos,
E tentativa de antipatia,
Que não deu certo.
Lembrei-me de quando me perdi em sorrisos,
Sorrisos e olhares amáveis,
Dirigidos a você.
Nada mais de água corrida,
Muito de mar...
Muito de mar em
Você que me inunda, que me afoga,
Por inteiro.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Xeque-mate

O que eu quis, há muito, foi esquecido...
Não me embriago mais em seus olhos.
Não sou mais dependente da sua droga,
Não o vejo mais príncipe, o vejo sapo.
Não tenho mais crise de abstinência
Dos seus abraços,
Nem crio fantasias,
Nem sonhos ultra-românticos – com você.
Seu xadrez, foi perdido,
Você tentou roubar,
(Pois eu não sabia jogar esse seu jogo,
Mas aprendi)
Mas fui eu que consegui fazer
Xeque-mate!
Xeque-mate, afinal!
Derrubei você – rei – e a sua torre,
E você todo príncipe-rei,
Virou sapo, caindo da sua torre,
E perdendo seu próprio jogo.
Quem mandou jogar com meu amor?
Eu não estou mais ferida.
Não restam mais sonhos,
Mais contos-de-fada, mais xadrez.
Não resta mais nada do amor
Que eu sentia por você,
Você mesmo pôs tudo a perder!
Nem adianta, agora, me pedir perdão.
Também não sobrou em mim
Nada desse vício que você representou.

Retorno

Depois de meses longe do blog, voltei, voltei para ficar, digo, para postar. Durante o tempo em que eu não postei nada, não deixei de escrever, por isso, tenho muitos textos para colocar no blog. Espero que todos gostem.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Apenas mais uma sobre amor, dor, e tudo o mais

Ela acordou com uma tremenda palpitação. Junto a isso se juntaram dor de cabeça, e náuseas. Uma dor na garganta e tontura também foram imprescindíveis. Tudo isso, junto, assim, só podia ser sintoma de uma doença, – não, não era dengue, nem desidratação, nem faringite, nem febre amarela, nem nada do que possa estar parecendo – era, isso sim: dor de cotovelo, misturada à saudade e ao amor não mais correspondido.
Depois do fim, o que lhe restou foram dores, pelo corpo todo, feito febre que não passa, feito doença que não tem remédio que cure, e ainda vai levar tempo para acabar.
Sabe o que eu acho? Eu até teria falado a ela, mas achei melhor deixá-la quietinha, pois o silêncio, às vezes, pode trazer idéias para solucionar o problema – penso que a indústria farmacêutica ganharia rios (rios não, oceanos) de dinheiro se eles resolvessem vender remédio para esse mal chamado amor. Eles devem saber qual é a solução, afinal, estudam anos para isso. E, além do mais, nunca vi um(a) farmacêutico(a) padecendo com tais dores, com esse mal. Eles não querem repartir o conhecimento deles! Quanto egoísmo!
Se bem que vi minha amiga farmacêutica, certa vez, lamentando-se, e quase chorando, por um amor assim. Será que não contaram a fórmula do remédio a ela? Pobrezinha! Não, talvez eu esteja enganada, e eles não conheçam a cura ainda.
Talvez um remédio paliativo, que não cura, mas alivia um pouco a dor, por um momento. Acho que já daria lucro. Talvez um coquetel que pudesse ajudar a combater, mesmo que não fosse o mal em si, mas, pelo menos, o que ele acarreta. Mas o melhor, com certeza, seria um remédio bastante eficaz, que começasse a agir desde o início: desde o primeiro olhar, antes que esse se evoluísse para um flerte. Seria, de fato, ótimo! A oitava maravilha do mundo!
Mas, pensando um pouquinho mais, e melhor, talvez a ciência já tenha descoberto a cura total, uma forma de eliminar toda e qualquer forma possível de amor, mas tenham jogado toda a descoberta ralo abaixo, pois descobriram, logo em seguida, que a vida não existe sem amor, e que se se morre vagarosamente, um pouco por dia, por causa dele, sem ele, não existiria vida no universo, sem ele, nem ao menos nasceríamos. Quanto à dor dela? Nossos bisavós estavam certos: o tempo cura – se não cura, pelo menos acalma e aquieta o coração. É mesmo assim...

domingo, 24 de janeiro de 2010

Primeiro amor

Ele era um simples cantor de cidade pequena. Tinha um violão meio velho, mas, ele mesmo, era jovem, e devia ter, aproximadamente, seus 28 anos. Ele tinha voz bonita, e uns olhos ainda mais belos que a voz. Uma garota se afogaria naqueles olhos. Ela, no entanto, não era mais uma garota, mas uma mulher, com cerca de 50 anos.
Ele – embora rodeado de moças lindas e apaixonadas – nunca se apaixonara, muito menos, acreditava viver um grande amor, ele era como um pássaro livre, sem destino certo, sem ninho, que, a cada hora, pousava num galho diferente. E ela, embora experiente, nunca amara. Ela era séria, e adorava seu trabalho, uma grande, conhecida e talentosa designer de moda, e, por causa disso, nunca tinha tempo para romances sérios, nunca tinha tempo para se apaixonar. Vivia relacionamentos rápidos e passageiros, dos quais, quando muito, sobravam uma ou duas lembranças.
Ela estava naquela cidade tão pequenina para analisar uns bordados feitos por um grupo de senhoras que lá moravam. Durante uma dessas idas à casa das senhoras, ela ouviu uma voz que lembrava canto de rouxinol. E, talvez pela primeira vez depois de muitos anos, ela desacelerou. Ficou a procura daquele canto. E quando viu, era de uma boca macia e quente, risonha, que saía aquela canção que ela nem mesmo conhecia: “A Deusa da minha rua / Tem os olhos onde a lua / Costuma se embriagar / Nos seus olhos eu suponho / Que o sol num dourado sonho / Vai claridade buscar”. Ele parou de cantar assim que a viu. Ela era tão bonita! Uma beleza clássica, como ele jamais viu. Ela olhava para ele com um olhar fascinado... Ela nunca vira um rapaz tão bonito e com uma voz tão doce! “Nossa, como pode um rapaz tão pobre, ser tão belo?” - pensava ela, que sempre fora muito preconceituosa.
Ele viu os olhos daquela mulher, e o sol buscou nos olhos dela a claridade que eles podiam oferecer-lhe. Olhos vivos os dela, olhos preguiçosos, marotos e azuis os dele. Ela sentiu-se entre mulher madura, independente e determinada que era, e menina encantada, fascinada, que nunca foi. Desde então, durante o tempo que ficou naquela cidadezinha, ela sempre passava por aquela rua, pois sabia que lá estava o seu passarinho canoro de olhos feito mar, e sorriso feito doce. Desde então, ele só cantava sobre deusas quando a sua, que ele, nem ao menos, sabia o nome, estava presente. Ele nunca pensou que deusas fossem mais velhas que ele. Ela nunca pensou que se fosse encantar, muito menos por um rapaz mais novo, e menos ainda, por um pobre. Ela, que só amava luxo, riqueza e status, aprendeu a amar.
Mas quando ela se viu obrigada a voltar... Ela não suportaria! Mas era preciso, ele, nem ao menos, sabia quem era ela, e não gostava dela como ela, dele – ela pensou. Destino... quem sabe? Ele a viu dentro do carro, partindo para a capital. Ela o viu também, e pediu ao motorista para parar. Ela correu até ele, como nunca correra até ninguém, e dera no rapaz o primeiro beijo de amor de ambos. Sentiu-se, pela primeira vez em toda a sua vida, adolescente e, verdadeiramente, feliz. E ele sentiu, pela primeira vez, o coração bater mais forte e acelerado. Bocas quentes e úmidas, corações quentes, unidos, colados e amarrados um ao outro. Depois saiu, sem dizer palavra, com olhos baixos, quase marejados, implorando um abraço. Que abraço ele lhe daria? Ele estava extasiado, mas completamente surpreso, assustado e, por isso, paralisado, estático. Pobre rapaz! Ele quis, mas a emoção de saber que era correspondido, o tornou completamente atônito, quase tonto. Ela voltou correndo ao carro, pois nunca dissera a ele o quanto ele significava para ela. Mas antes que ele pudesse sair daquele estado de paralisia e correr ao encontro dela, no carro, o automóvel já estava indo embora.
Nunca mais ela foi a mesma. Ela, pela primeira vez, tinha muitas, muitas lembranças, as quais nunca esqueceu. Nunca mais ele cantou, nem tocou músicas sobre deusas. A deusa de sua rua era apenas uma miragem. Ela estava só de passagem no seu mundo, o Olimpo esperava por ela. Mas de toda essa história, algo é certo: ele recebera uma deusa mulher, mas devolvera, ao Olimpo, uma deusa menina.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Um blog começando...

"Se procurar bem você acaba encontrando.
Não a explicação (duvidosa) da vida,
Mas a poesia (inexplicável) da vida."

Carlos Drummond de Andrade