quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O musical de amor

Ele lhe disse que sempre procurara aquela voz para cantar “Endless Love” com ele, e sua banda, e que logo que, ao videokê ela cantara “Me chama”, ele soube que a voz que almejara era a dela. Ela riu, e disse que aquilo era uma brincadeira, uma tolice, que ela não sabia cantar coisa alguma, só fingia. Ele sorriu e disse que ela cantava perfeitamente, perguntou-lhe se topava um dueto, e insistiu muitíssimo. Ela, então aceitou fazer um teste, só para ver. Ele estendeu a mão, ela bateu. As destras se encontraram, se uniram e se cruzaram. E os olhares se encontrando, congelaram-se. Os suaves sorrisos também. O mundo inteiro caberia naquele espaço de tempo entre olhares e sorrisos, num espaço sem beijo, mas com muita canção e história, onde tudo se congelara. Então, pouco a pouco, os dedos foram se desvencilhando, ela acariciou o indicador dele, como quem não queria mãos separadas, ele também não queria, nenhum dos dois queria tirar a direita, mas era preciso, para que aquela magia de instantes voltasse a rotineira vida normal.
E quando mãos já não se encontravam, já não se tocavam, ela pediu por favor: “Espere! Por favor, cruze sua mão em minha novamente, preciso saber se é verdade”. Ele não compreendeu uma só palavra dela, mas, novamente, dera-lhe sua direita, e toda a magia de olhares e sorrisos novamente. Então ela fechou, brevemente, os olhos, abriu-os, sorriu mais do que antes, e gritou: “É isso! Você me ajudou a desvendar essa charada, esse meu grande enigma”.
“O quê? Não compreendi; do que você está falando?” - ele perguntou meio perdido em meio àquela fala. Ela, enfim, explicou-lhe que, durante toda a vida, procurara uma história perfeita, um romance contemporâneo, com a magia dos clássicos, para escrever, procurara esse romance na vida de outrem, procurara em sua própria imaginação, mas que nunca conseguira encontrar, e mesmo quando insistira em escrever vários textos, até obter o que desejava, não conseguiu chegar nem perto do que ela sempre sonhou. Faltavam-lhe as ideias, as grandes ideias. E só agora sabia o porquê, pois a história que ela queria criar, já existia, já fora escrita, já estava pronta, era só questão de esperar o tempo certo para o livro sair do forno e ser lido. Ele ficou ainda mais confuso, e ela prosseguiu, como que percebendo sua confusão, e lhe explicando que a história que ela queria criar, mas já estava prontinha, era o seu destino, era a sua própria história, o seu romance, a sua vida.
Ele entendia cada vez menos, e ela disse: “A história que sempre quis escrever era essa de agora: o mocinho era você, e a mocinha era eu, o romance que eu sempre desejei escrever e publicar era a minha vida, e eu nunca fiz ideia, a não ser agora, quando você cruzou sua mão à minha. Então eu encontrei o romance contemporâneo com a magia de clássico com o qual sempre sonhei”, e completou com um “Eu amo você”. Ele a olhou fixamente, depois sorriu, e, como incrédulo, perguntou-lhe: “Você me ama?”, ela disse: “Há muito, mas só agora me dei conta de que a história que eu procurei a vida toda era essa”. Ela disse ainda que ele era a sua grande história, sua literatura, e ele respondeu que ela era sua voz, sua música desejada, o som que queria ouvir há muito tempo.
Ele fez gestos de lhe beijar, mas ela respondeu que em sua história o mocinho só beija a mocinha se ele tem certeza absoluta de seu amor por ela. Então, ele deu mostras de ir embora, mas ele não ia para sempre, só se virara para apertar o play no aparelho de som, para que a história tivesse sua própria trilha, e, ao som de “Endless Love”, deu meia volta, tocou-lhe o rosto, e lhe beijou apaixonadamente. Agora todos já conhecem a história, e sua respectiva trilha sonora, talvez, quase, um musical. Um musical de amor. O musical de amor.

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